Ozônio e endometrite em vacas. Já ouviu falar o que o ozônio tem a ver com isso?
A endometrite clínica pós-parto em vacas leiteiras representa não apenas um desafio para a saúde reprodutiva do rebanho, mas também uma preocupação significativa para os criadores. Este cenário inflamatório, caracterizado por uma infecção localizada na membrana mucosa do útero, surge aproximadamente na terceira semana após o parto, desencadeando uma série de complicações que afetam diretamente a fertilidade e o bem-estar dos animais.
O diagnóstico preciso dessa condição é crucial para a implementação rápida de intervenções terapêuticas eficazes. A secreção mucosa, mucopurulenta à purulenta, que se torna evidente na região reprodutiva, é um indicador marcante da endometrite. No entanto, além do impacto no diagnóstico, as repercussões dessa condição vão além do âmbito clínico, estendendo-se para esferas econômicas e de planejamento para os criadores.
A persistência da endometrite pode comprometer a saúde do rebanho, aumentar os custos de tratamento e, o que é ainda mais crítico, afetar negativamente as taxas de concepção, resultando em uma redução de produtividade. Nesse contexto, a busca por abordagens terapêuticas inovadoras que possam atuar no tratamento da endometrite clínica pós-parto torna-se um grande interesse para a qualidade de vida do animal e para o criador, seja com intuito comercial ou não.
O estudo conduzido por Nayak et al. (2023) surge como um avanço importante nessa busca por alternativas, explorando a eficácia da insuflação intrauterina de ozônio, tanto isoladamente quanto em combinação com cefalexina (antibiótico comumente usado no tratamento dessa infecção), como uma alternativa promissora aos tratamentos convencionais. Vamos adentrar nos detalhes dessa investigação que não apenas lança luz sobre novas perspectivas terapêuticas.
Método
Este estudo foi conduzido em vacas leiteiras com endometrite clínica pós-parto, selecionadas a partir de casos apresentados no Complexo Clínico Veterinário de Ensino, Faculdade de Ciência Veterinária e Zootecnia, OUAT, Bhubaneswar, e casos atendidos no esquema de cobertura de saúde móvel, OUAT, na residência do proprietário em torno de Bhubaneswar.
Quatorze vacas foram incluídas na amostra após passarem por uma triagem cuidadosa. Esses animais foram randomicamente alocados em dois grupos iguais (n = 7): Grupo I, tratado com insuflações intrauterinas de ozônio; Grupo II, tratado com insuflações intrauterinas de ozônio combinadas com cefalexina (Lixen-IU). Adicionalmente, sete vacas cíclicas normais pós-parto foram selecionadas como grupo controle.
O tratamento consistiu em três aplicações de insuflações intrauterinas de ozônio em intervalos de dois dias, utilizando um gerador de ozônio que produziu 21 mg de ozônio em 2,5 minutos. Amostras foram coletadas imediatamente antes do tratamento. A coleta de secreção uterina foi realizada seguindo procedimentos assépticos, utilizando um cateter uterino de vidro estéril acoplado a uma seringa de 20 ml por meio de um adaptador de borracha. Um tubo cilíndrico de alumínio esterilizado foi inserido no óstio externo do colo do útero como dispositivo de proteção contra contaminação vaginal. As características físicas da secreção uterina foram avaliadas conforme os padrões de escore estabelecidos por Sheldon et al. (2006) para o caráter mucoso e por Williams et al. (2005) para o odor do fluido uterino. A carga bacteriana ou a unidade formadora de colônias (CFU) na amostra uterina foi contada adotando a técnica de contagem total de placas, conforme descrito por Malik (1967).
Resultados
A avaliação das características mucosas e odor da secreção uterina revelou uma redução significativa em ambos os grupos após o tratamento. No Grupo I (ozônio isolado), a redução percentual foi de 12,75% no terceiro dia pós-tratamento, aumentando para 44,23% no quinto dia e atingindo 82,04% no sétimo dia. Já no Grupo II (ozônio + cefalexina), a redução percentual foi mais acentuada, começando em 25,67% no terceiro dia, atingindo 70,66% no quinto dia e alcançando uma redução geral de 87,25% no sétimo dia. A comparação entre os grupos demonstrou diferenças estatisticamente significativas (p<0,01) entre os valores pré-tratamento e os registrados no sétimo dia.
Em relação à carga bacteriana, ambos os grupos apresentaram uma redução expressiva. No Grupo I, a redução percentual foi de 99,60% no sétimo dia, enquanto no Grupo II foi de 99,72%. A comparação entre os grupos não revelou diferenças significativas nesse parâmetro.
A contagem de células polimorfonucleares (PMN) no esfregaço uterino indicou um aumento significativo após o tratamento em ambos os grupos. No Grupo I, a contagem passou de 25,85±3,28 no pré-tratamento para 77,71±2,86 no sétimo dia. No Grupo II, a contagem aumentou de 22,85±2,77 para 87,14±1,35 no mesmo período. A diferença entre os grupos foi estatisticamente significativa (p<0,01), com o Grupo II apresentando uma resposta mais intensa.
No que diz respeito às taxas de concepção, o Grupo I registrou uma taxa de 42,85% após inseminação artificial, enquanto o Grupo II, que recebeu a combinação de ozônio e cefalexina, obteve uma taxa mais elevada de 71,42%. O grupo controle apresentou uma taxa de concepção de 42,85%. A análise de qui-quadrado não revelou diferenças significativas entre o Grupo I e o controle, mas o Grupo II mostrou uma melhoria numérica na taxa de concepção.
Esses resultados sugerem que a insuflação intrauterina de ozônio, tanto isoladamente quanto em combinação com cefalexina, foi eficaz na redução das características clínicas da endometrite pós-parto em vacas leiteiras. A resposta mais acentuada no Grupo II pode indicar uma sinergia entre o ozônio e a cefalexina. Esses achados fornecem evidências promissoras para o uso do ozônio como uma opção terapêutica eficaz e potencialmente econômica para a endometrite clínica pós-parto em vacas leiteiras, destacando a importância da pesquisa em alternativas aos antibióticos convencionais.
Referência:
BIJAY KUMAR PATRA et al. Therapeutic efficacy of ozone insufflations in alleviating endometritis in cows. The Indian Journal of Animal Reproduction, v. 44, n. 1, p. 61–65, 1 jan. 2023.
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