Estudos sobre os efeitos biológicos do ozônio: Liberação de fatores das células endoteliais humanas. Uma análise sobre reinfusão de sangue ozonizado, e aumento da liberação de NO, na vasodilatação em áreas isquêmicas e redução da hipóxia.
O tônus dos vasos sanguíneos sofre uma regulação complexa por vasodilatadores (NO, CO, acetilcolina, adenosina, prostaciclina) e fatores vasoconstritores, como ânion superóxido, endotelinas, tromboxano, angiotensina II e noradrenalina.
Em distúrbios vasculares, particularmente aterosclerose, a regulação se torna caótica devido à interferência de oxidantes, moléculas de adesão, citocinas e fatores de crescimento, levando à oclusão parcial dos vasos e hipóxia.
A isquemia crônica de membro é uma doença progressiva frequentemente observada na aterosclerose e diabetes levando à necrose das extremidades. A terapia convencional é realizada com infusão de prostanoides, vasodilatadores e antiagregantes, mas há vasta evidência clínica de que a reinfusão de sangue autólogo brevemente exposto a uma mistura de gás composta de oxigênio-ozônio (auto-hemoterapia maior) é similar, senão mais benéfica.
O estudo de Valacchi e Bocci (2000) mostrou que as espécies reativas de oxigênio (ROS) e/ou produtos de oxidação lipídica (LOP) derivados da interação do ozônio com o plasma aumentam a produção de óxido nítrico (NO), interleucina-8 (IL-8) enquanto o a liberação de E-selectina ou endotelina-1 (ET-1) é inibida ou dificilmente modificada, respectivamente.
Como o oxigênio, o ozônio se dissolve no plasma e reage rapidamente com uma série de substratos, como ácidos graxos poliinsaturados (PUFA), grupos -SH presentes em vários compostos e antioxidantes. Uma variedade de produtos gerados a saber, H2O2, malondialdeído, 4-hidroxinonenal, hidroperóxidos e lipoperóxidos podem atuar como sinais celulares e desencadear efeitos biológicos.
É preciso dizer que esses compostos, dependendo de suas concentrações, parecem se comportar como uma faca de dois gumes. Por isso, é necessário ter o cuidado ao definir a dose do ativo biológico que, em termos de concentração de ozônio, varia entre 20 e 80mg/ml gás por ml de sangue, sem apresentar efeitos tóxicos nem in vitro nem in vivo.
As observações clínicas do estudo mostraram que o Ozônio aumenta a entrega de oxigênio ao tecido hipóxico, além disso o plasma ozonizado durante a reinfusão pode provocar alguns efeitos na parede do vaso, possivelmente aumentando a vasodilatação. Os resultados deste artigo dão crédito a essa ideia, mostrando uma produção aumentada de NO, que é um componente importante do ciclo de feedback negativo que impede a trombogênese. A aderência das plaquetas à parede do vaso, e sua agregação, é suprimida por nitrovasodilatadores capazes de aumentar o cGMP intracelular, com consequente fosforilação de fosfoproteínas cGMP-dependentes e supressão da reatividade plaquetária. A possível formação in vivo de compostos nitrosos, com vida mais longa do que NO, pode diminuir lentamente o vasoespasmo.
Além disso, alguns estudos demonstraram claramente que o mRNA do VEGF é expresso de maneira dependente da dose e do tempo quando as células endoteliais do coração de rato são expostas a 0,5-1 mM de H2O2.
Desta forma, os autores concluíram que a reinfusão de sangue ozonizado, ao aumentar a liberação de NO, pode induzir vasodilatação em áreas isquêmicas e reduzir a hipóxia.
Referência:
Valacchi G, Bocci V. Studies on the biological effects of ozone: 11. Release of factors from human endothelial cells. Mediators Inflamm. 2000;9(6):271-6. doi: 10.1080/09629350020027573.