Tratamento com Ozônio é utilizado em feridas ortopédicas evitando amputação

Tratamento com Ozônio é utilizado em feridas ortopédicas evitando amputação

Feridas são lesões no tecido que podem prejudicar suas funções básicas, inclusive as crônicas que muitas vezes estão associadas a outras doenças. Essas feridas podem ter graus de comprometimento variados, tornando sua cicatrização difícil e prolongada. O tratamento com ozônio pode ser utilizado como uma terapêutica em feridas ortopédicas com o objetivo de evitar a amputação ou perda de membros. 

Como sabemos. as três formas do ozônio (gás, água e óleo ozonizado) podem ser utilizadas para o tratamento das feridas. A água ozonizada, por exemplo, pode ser utilizada para a lavagem e umedecimento, o óleo ozonizado pode ser utilizado como cobertura de feridas em estágio de epitelização e o gás pode ser aplicado na região perilesional, ou pela via sistêmica (por exemplo: insuflação retal ou auto-hemoterapia) ou ainda através de bags especiais com sistema fechado de circulação do ozônio e um sistema de sucção conectado a um catalisador de O3. Neste caso, uma parte do corpo, como a perna, é colocada dentro do bag, feito de material ozônio-resistente, cujas bordas são vedadas junto à pele.
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Entre as vantagens do Ozônio, pode-se citar:
1. Uma única molécula apresenta atividade bactericida, fungicida e virucida, sendo difícil encontrar alguma outra substância ou fármaco que reúna esta ampla atividade antimicrobiana;
2. Promove bioestimulação e neoangiogênese, fundamentais para a cicatrização do epitélio;
3. Custo baixo e acessível, principalmente quando se compara com outras coberturas e medicamentos.
4. Quando associada a terapia sistêmica com o O3 obtém-se além da melhora da cicatrização local, efeitos secundários sistêmicos, como a melhora dos níveis de glicose em Diabéticos, relatada em alguns artigos científicos.
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As dosagens e concentrações aplicadas não seguem um padrão, e dependem de fatores como o estágio da ferida, se está infectada, necrosando ou epitelizando. Para tanto é fundamental saber avaliar a ferida, estabelecer outras medidas como desbridamento e a partir disso elaborar protocolos individualizados para cada paciente.
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Em inúmeros casos, alguns que inclusive estavam indicados para amputação, o ozônio tem se mostrado uma terapia eficiente e segura, proporcionando ao paciente melhora do quadro clínico e da qualidade de vida.

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Um estudo realizado pelo Grupo de Pesquisa Ortopédica da Índia (Thane e Instituto Sancheti de Ortopedia e Reabilitação) apresentou um caso de síndrome de compartimento após o tratamento cirúrgico de fratura de tíbia proximal, com ferida extensivamente infectada e estrutura óssea da tíbia exposta a cerca de 4/5 da sua extensão, no qual a terapia adjuvante com ozônio foi utilizada com eficiência.

O relato de caso trata-se de uma mulher de 59 anos que teve uma queda menor com lesão na perna direita. Ela foi diagnosticada como tendo fratura por estresse da tíbia proximal e a partir disso o paciente foi submetido à cirurgias, antibioticoterapia parenteral e foi diagnosticada síndrome de compartimento. Sem melhora no estado da ferida, o paciente foi aconselhado a amputação.

Frente a este aconselhamento, o paciente não consentiu com a amputação e buscou tratamento adicional com a equipe deste estudo. No momento da apresentação, a ferida estava coberta com tecido necrótico, descamação e 4/5 do osso da tíbia expostos com escurecimento na extremidade inferior. O pus ativo foi descarregado da articulação do joelho através da ferida medial.  A paciente era hipertensa e estava em uso de medicamentos desde os últimos 8 anos. Não havia histórico de diabetes ou qualquer outra doença médica ou cirúrgica. A cultura a partir da coleta do material necrótico com swab revelou infecção associada ao Staphylococcus aureus. Um desbridamento cirúrgico completo da ferida foi realizado com a remoção de todos os tecidos mortos e necróticos.

Após a cirurgia, prosseguiu-se com a Ozonioterapia, onde toda a perna foi molhada com água destilada estéril e coberta com um saco plástico estéril, que possui válvulas de saída e entrada. Primeiro, o ar foi aspirado para fora do saco e, em seguida, a mistura de ozônio na dose de 70 µg foi infundida no saco até que estivesse cheio com o gás. Após a infusão de toda a dose, a máquina de ozônio foi desligada e a bolsa foi deixada no lugar pelos próximos 30 minutos. Essas sessões foram realizadas 2 vezes ao dia. Antibióticos também foram administrados. Adicionalmente, foi realizada a autohemotransfusão de ozônio uma vez ao dia, retirando 50 cc do sangue do paciente e ozonizando-o com 70 µg de ozônio e, em seguida, injetando-o novamente no paciente. A limpeza e o curativo de rotina eram realizados diariamente. Este protocolo foi seguido pelos próximos 4 dias.

No 5º dia pós-admissão foi tomada uma decisão de fornecer cobertura biológica ao osso da tíbia exposto e um enxerto de pele de espessura dividida. No pós-operatório, foram administradas mais 5 sessões de ozônio local até que a ferida do joelho se tornasse saudável e começasse a granular na base. O enxerto de pele foi bem aceito sobre os tecidos moles circundantes, o enxerto sobre o osso e o implante foi removido no 15º dia da admissão e a tíbia foi fixada com haste intramedular intertravada e retalho de pedículo Latissimus dorsi (Músculo dorsal).

O retalho foi bem recolhido e a ferida no joelho curada por segunda intenção. O exame de acompanhamento teve boa cicatrização do retalho e um com sinais progressivos de união. Nenhuma reativação adicional da infecção foi observada. O osso cicatrizou em 4 meses, com o paciente começando a andar por 2 meses, com peso parcial por 4 meses e com peso total por 6 meses. Aos 20 meses de acompanhamento, o paciente está andando com o peso total e usando uma tala anti-queda. O joelho tem uma amplitude de movimento de 10 ° a 100 °. O paciente é capaz de realizar suas atividades diárias e é capaz de caminhar 200 m de distância em um trecho. 

De que forma o ozônio é utilizado em feridas ortopédicas e contribuiu para a cicatrização?

Na discussão do estudo os autores abordam que a ferida não cicatrizada e necrótica observada na síndrome pós-compartimento pode estar associada a isquemia tecidual contínua, lesão por reperfusão, homeostase desequilibrada e microcirculação.

No sangue, o ozônio quase imediatamente se desintegra, formando espécies reativas de oxigênio (ROS) e oxidação lipídica (LOPs). Os produtos de oxidação lipídica causam vasodilatação ao atuar no endotélio, causando liberação de prostaciclina, interleucina-8 e óxido nítrico. As espécies reativas de oxigênio causam agregação plaquetária e liberação de fatores de crescimento derivados de plaquetas, transformando o fator de crescimento beta interleucina-8, que desempenham um papel importante na rápida cicatrização de feridas.

O ozônio administrado na forma de auto-hemoterapia (AHT) também mostra melhorar as propriedades hemorreológicas e aumentar a oferta de oxigênio para tecidos isquêmicos. Além disso, o estresse oxidativo terapêutico causado pelo AHT também leva à regulação positiva das enzimas antioxidantes intracelulares e à produção de heme oxigenase-1 e proteína 70 estável ao calor, que ajudam a proteger os tecidos de isquemia/reperfusão e inflamação. 

No caso deste estudo, os autores apontam a imunosenescência como uma das causas de diminuição da cicatrização de feridas, visto que o paciente tinha 59 anos de idade. O ozônio AHT induz a liberação de citocinas, como o TNF- ae interleucinas, que ativam os neutrófilos e os linfócitos. Esses linfócitos ozonizados reinfundidos ativam ainda mais outras células de maneira parácrina, causando estimulação imune generalizada. 

Embora o ozônio tenha excelentes propriedades bactericidas, virucidas e também antiprotozoários, essa ação é anulada pela presença de antioxidante endógeno no plasma. Isso torna o ozônio ineficaz na esterilização de sangue e se torna um dos principais motivos para combinar o AHT com a terapia tópica de ozônio (bag para ozonização).

Por outro lado, é importante ressaltar que a lesão oxidativa é uma complicação potencial da terapia com ozônio. No sangue, o O3 leva à formação de espécies reativas de oxigênio, no entanto, felizmente, nas doses terapêuticas fornecidas, esses radicais de oxigênio são completamente removidos por antioxidantes no sangue. Assim, os efeitos colaterais são vistos apenas em casos de sobredosagem ou sistema antioxidante comprometido.

Em conclusão, os autores destacam que não houve complicação associada à terapia com ozônio. Ao contrário da amputação oferecida a ela, aos 20 meses, a paciente começou a levar uma vida independente com o mínimo desconforto. Dessarte, os resultados dessa experiência certamente ajudarão no planejamento de novas investigações sobre ozônio utilizado em feridas ortopédicas como adjuvante da modalidade convencional para o tratamento de feridas ortopédicas extensas. 

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